COCOROCÓ… A VITÓRIA (DO MPLA) É CERTA!

O deputado da UNITA, Nelito Ekuikui, afastado por Isaías Samakuva (quiçá por ordem do presidente do MPLA) do cargo de secretário provincial do partido em Luanda, diz-se “tranquilo e sereno” e defendeu múltiplas candidaturas à presidência mas também a reeleição de Adalberto da Costa Júnior (ACJ) no próximo congresso.

Nelito Ekuikui, que durante quase dois anos dirigiu o secretariado provincial de Luanda da UNITA, maior partido na oposição que o MPLA (ainda) permite, foi afastado do cargo na segunda-feira pelo actual líder (escolhido, eleito e imposto pelo MPLA) do partido Isaías Samakuva.

Samakuva regressou à liderança do partido após o acórdão do Tribunal Constitucional (sucursal submissa do MPLA) angolano anular as deliberações saídas no XIII Congresso realizado em 2019, afastando deste modo ACJ, presidente eleito neste conclave.

Hoje, em declarações à Lusa, Nelito Ekuikui disse que já esperava por este afastamento do cargo afirmando que nada o surpreendeu e que na política os cargos “são temporários e não permanentes”. Isto, é claro, se isso for da conveniência do MPLA, como é o caso. João Lourenço baixa a ordem e Samakuva assina.

“Recebi a notificação com muita tranquilidade, bastante serenidade e como militante do partido, forjado na dificuldade e na defesa do que é mais puro, nada me surpreendeu”, disse o político dos “maninhos”.

Sem nenhum cargo de direcção na UNITA, Nelito Ekuikui assegurou que continuará a fazer o que, de facto, Samakuva não faz, ou seja, defender o seu partido e a independência deste “para não sofrer inferências profundas, o partido está sob ataque”.

O partido “está a ser vítima do regime que sustenta o poder, o MPLA (no poder desde 1975) via Tribunal Constitucional, precisa que os seus militantes estejam na linha da frente para a defesa”, apontou.

“E eu agora estou melhor posicionado, como militante de base e membro da Comissão Política, para defender o partido e estou firme”, garantiu o também deputado à Assembleia Nacional.

O prazo de apresentação das candidaturas à liderança da UNITA, que vai eleger um novo presidente na sequência do afastamento de Adalberto da Costa Júnior, decorre entre 4 e 11 de Novembro, sendo certo que o MPLA está à espera que não seja ACJ. Por alguma razão, desde sempre, o MPLA é fraquinho contra os fortes, mas híper-forte contra os fraquinhos, tipo Samakuva.

O anúncio foi feito na segunda-feira por Anastácio Sicato, porta-voz do XIII Congresso, que apresentou a calendarização dos preparativos para o conclave onde serão eleitos os novos dirigentes.

Anastácio Sicato disse que os candidatos que concorreram ao congresso anterior podem apresentar-se novamente, não estando ainda decidido se o futuro presidente do partido vai ser, ou não, o cabeça de lista das próximas eleições gerais, previstas para 2022.

O XIII Congresso, convocado para os dias 2,3 e 4 de Dezembro, terá 1.150 delegados que serão eleitos pelos militantes de base nas conferências preparatórias.

Em relação ao congresso de Dezembro, Nelito Ekuikui disse que apoia a recandidatura de Adalberto da Costa Júnior e assegurou que estará na “linha da frente” e terá agora “maior abertura para fazer campanha”, estado sem qualquer cargo de direcção.

Apesar de declarar apoio à ACJ, que dirigiu a UNITA nos últimos dois anos, Nelito Ekuikui defendeu igualmente múltiplas candidaturas ao cargo de presidente do seu partido considerando que o partido “é aberto” e deve manter esse mecanismo a nível interno.

“O partido é aberto e acho que deveria continuar a ter múltiplas candidaturas e é bom para o país, a UNITA não pode retroceder, a UNITA não pode ter apenas única candidatura, acho que as pessoas deviam aparecer ao congresso”, notou.

“Aqueles que pensam diferente do actual presidente e que se transformaram numa oposição interna, nos últimos dois anos, deviam ter essa oportunidade para apresentarem-se ao congresso que deve clarificar de que lado está efectivamente a vontade dos militantes”, argumentou.

Questionado sobre alegadas alas internas, que estaria a criar contra Isaías Samakuva, como circulam nas redes sociais, disse que as referidas informações não fazem sentido porque Samakuva é um presidente de transição.

“O presidente Samakuva é um presidente de transição, tem 30 dias, porque é que eu iria criar alas contra ele se ele não veio para ficar, faz sentido? Não faz sentido. O presidente Samakuva está a conduzir um processo transitório e não há razões de criar alas contra ele”, justificou ainda Nelito Ekuikui.

Contra a UNITA lutar, lutar!

E enquanto a UNITA/Samakuva/MPLA continua a dar tiros nos pés, o chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, Francisco Furtado, acusa os partidos da oposição de criar insegurança e terror em Angola para forçar o adiamento das eleições gerais. A oposição deixou de devolver as acusações ao general e ao MPLA. Mais. O que leva o responsável pela Casa de Segurança a meter a foice em seara supostamente alheia? Hum! Cheira a esturro.

O general Francisco Furtado, chefe da Casa de Segurança do Presidente da República de Angola, pede (ordena) “prontidão” às Forças Armadas Angolanas (FAA) face à “estratégia errada e irresponsável” dos partidos políticos da oposição, que acusa de intimidação e terror. O Governo, que deixou de ter Ministro da Defesa Nacional (e Veteranos da Pátria), continua a mostrar como se garante a segurança numa ditadura.

“Levantar suspeição de fraude, visando instauração de um clima de intimidação e terror no seio das populações, antes da convocação das eleições previstas e legisladas para o próximo ano 2022, não faz parte de nenhum jogo democrático, mas sim de uma estratégia errada e irresponsável de quem apregoa ventos de pseudo-democratas, mas que não sabem e nem estão preparadas para coabitar em ambiente de paz, concórdia e estabilidade”, alertou Francisco Pereira Furtado, numa cerimónia que marcou a celebração dos 30 anos da criação das FAA.

As declarações do ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República surgiram, recorde-se, num momento de tensão política em Angola devido ao polémico acórdão do Tribunal Constitucional (do MPLA) que impugnou o congresso que elegeu Adalberto da Costa Júnior como presidente da UNITA.

Em jeito de resposta a este anúncio, o chefe da Casa de Segurança do Presidente da República garantiu que a sociedade civil angolana “não se deixará levar pelas influências dos falsos activistas políticos que a todo o custo querem chegar ao poder por via da desordem, desobediência civil e actos de intolerância política”. O general Francisco Pereira Furtado pediu (ordenou) ainda às forças de defesa que estejam vigilantes na protecção da estabilidade do país. Sendo que, na perspectiva do general, estabilidade do país é sinónimo de impunidade do MPLA.

Ouvidos pela DW África, alguns dirigentes partidários desmentiram o general, defendendo que a oposição é quem mais luta pela democratização do país. Por outro lado, os partidos desafiaram o general Francisco Pereira Furtado a apresentar provas das suas acusações. Provas que não tem, obviamente.

Na altura, a UNITA, através do deputado e agora ex-secretário provincial em Luanda Nelito Ekuikui, responsabilizou o MPLA pelo suposto plano de clima de terror no país, com a finalidade de incriminar a oposição e justificar o insucesso na governação.

“Tem sido vontade do partido onde o general milita [o MPLA], levar os angolanos efectivamente à instabilidade. Os partidos políticos na oposição rejeitam esta agenda com bastante sabedoria. Temos conhecimento de determinadas medidas que têm sido tomadas no sentido de levar o povo a revoltar-se e depois tentar-se justificar o que não se fez com uma suposta agenda dos partidos políticos na oposição, que, na verdade, é uma agenda do partido onde o general faz efectivamente parte”, acusou Ekuikui.

Recorde-se que João Lourenço orientou o então seu novo ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança (Francisco Pereira Furtado) a fazer o levantamento e pôr fim a todos os oficiais “fantasmas” no seio das forças de defesa e segurança do país.

João Lourenço falava na cerimónia de tomada de posse de Francisco Pereira Furtado, nomeado pelo chefe de Estado para substituir no cargo o famosíssimo general Pedro Sebastião, exonerado na sequência de um escândalo financeiro que envolveu (se calhar por culpa da Oposição) oficiais da Casa de Segurança.

“Gostaria de desejar, fazer votos, que tenha sobretudo muita coragem, vontade, não apenas de trabalhar, mas de mudar radicalmente o estado das coisas, não apenas nas Forças Armadas Angolanas, mas em todos os órgãos de defesa e segurança, nas forças armadas, Polícia Nacional, serviços, e tal como no quartel, na parada, quando se chama pelo soldado, o soldado responde presente”, disse João Lourenço.

O chefe de Estado frisou que uma das missões do ex-Chefe do Estado-Maior General das FAA, agora em novas funções, é “chamar pelos efectivos para que todos respondam presente”.

“Porque todos aqueles que recebem salários do Estado têm necessariamente de responder presente, a não acontecer isto devemos concluir imediatamente que estamos perante um efectivo `fantasma`, portanto, uma das tarefas que terá, será, com certeza, limpar todos os efectivos `fantasmas` que existirão nos órgãos de defesa e segurança”, afirmou João Lourenço.

Francisco Pereira Furtado entendeu a mensagem e alargou o seu âmbito de actuação. Assim, propõe-se… limpar também todos aqueles que, por não serem do MPLA, se atrevem a criticar os donos do poder, acreditando que Angola é o que não é: uma democracia e um Estado de Direito.

“Os últimos acontecimentos de Luanda vêm demonstrar que é por aí que, com dinheiros públicos, estamos a engordar o “caranguejo”, portanto, uma das suas missões é travarmos o quanto antes isto”, acrescentou, numa referência à “Operação Caranguejo”, relativo a um grupo de oficiais (do MPLA, é claro) afectos à Casa de Segurança do Presidente da República, implicados num processo que envolve elevadas somas monetárias, na ordem dos milhões de dólares, euros e kwanzas.

Na altura, em declarações à imprensa, Francisco Pereira Furtado admitiu ter uma grande responsabilidade pela frente, realçando que foi orientado pelo Presidente da República sobre o que deve exactamente fazer. E o que deve fazer é, agora, pôr na linha esses bandoleiros dos partidos da oposição.

“O Presidente da República orientou exactamente aquilo que devo fazer relativamente à adequação das estruturas da própria Casa de Segurança e o trabalho profundo de cadastramento físico de todos os efectivos dos órgãos de segurança e defesa nacional, por formas a que possamos dar dignidade a estes órgãos que servem o país e que devem estar adequadas à realidade daquilo que o país realmente precisa e, acima de tudo, a moralização da sociedade castrense e os órgãos de segurança em si”, referiu Francisco Pereira Furtado.

Relembre-se que um comunicado da Procuradoria-Geral da República anunciava no dia 24 de Maio que foi aberto um processo que envolve oficiais das Forças Armadas Angolanas afectos à Casa de Segurança do Presidente da República, por suspeita do cometimento dos crimes de peculato, retenção de moeda, associação criminosa e outros.

A nota da PGR frisava que no âmbito do referido processo foram apreendidos valores monetários “em dinheiro sonante, guardados em caixas e malas, na ordem de milhões, em dólares norte-americanos, em euros e em kwanzas, bem como residências e viaturas”.

As exonerações na Casa de Segurança do Presidente da República surgiram após notícias sobre um oficial das Forças Armadas Angolanas, supostamente o chefe das finanças da banda musical da Presidência da República, major Pedro Lussaty, que tinha sido detido em posse de duas malas com dez milhões de dólares e quatro milhões de euros, supostamente a tentar sair do país.

Folha 8 com Lusa

Artigos Relacionados

Leave a Comment